SINDIQUÍMICA

OMS quer mais informações sobre a vacina contra o novo coronavírus aprovada pela Rússia antes de recomendar seu uso

Frascos com doses da vacina produzida na Rússia, a Sputnik 5

Sem apresentar nenhum estudo concluído, o governo russo anunciou nesta terça-feira (11) que aprovou a comercialização da vacina contra Covid-19 desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Gamaleya, de Moscou, que teria obtido bons resultados de segurança e resposta imune. A Rússia já começou a negociar acordos de produção, inclusive no Brasil, mas a não realização de todos os testes necessários gerou muita desconfiança na comunidade científica mundial, que pede cautela.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) ressaltou que a Rússia não precisa de seu aval para registrar a vacina contra o novo coronavírus. Há discussões sobre uma possível pré-qualificação da entidade em relação ao imunizante, mas para isso é preciso fazer uma análise rigorosa e avaliação de todos os dados sobre sua eficácia e segurança.

Para avaliar a eficácia e segurança da vacina, a OMS explica que precisa ter acesso aos dados da pesquisa do laboratório russo Instituto Gamelaya. Até o momento, pouco se sabe sobre os detalhes que embasam a pesquisa.

A OMS monitora o desenvolvimento das vacinas. Pelo último registro da entidade, do dia 31 de julho, os russos ainda estão na fase 1, e seria preciso completar a fase 3 para fazer o registro. A entidade considera que uma vacina, por questões de segurança, só deve ser usada na população depois de aprovada nessas três etapas.

A fórmula foi batizada de Sputnik 5, em referência ao primeiro satélite lançado ao espaço na história. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que o imunizante passou por todas as verificações exigidas e acrescentou que uma de suas filhas já tomou, tendo bom resultado. Autoridades russas têm planos de iniciar uma vacinação em massa em outubro.

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, vai se reunir nesta quarta-feira (12) com o embaixador da Rússia para discutir um convênio de cooperação para produzir o imunizante no estado do Sul do País. Se houver acordo, a previsão é que a distribuição da Sputnik no Brasil não comece antes do segundo semestre de 2021, possivelmente depois de outros imunizantes que já estão sendo desenvolvidos em parcerias no país.

O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) será responsável por todas as etapas, desde um braço do ensaio clínico de fase 3 até a distribuição das doses. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no entanto, afirma que ainda não recebeu pedido de registro do produto russo.

O que se sabe até agora sobre a Sputnik 5 é aquilo que foi registrado no portal ClinicalTrials.gov, dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA), que a Organização Mundial da Saúde (OMS) usa para agregar informação sobre diferentes iniciativas de vacinas. O produto consiste de um “vetor viral não replicante” contendo RNA, material genético do vírus, capaz de produzir “antígenos”, moléculas similares ao novo coronavírus para “treinar” o sistema imune da pessoa a atacar o patógeno no caso de uma infecção real. O RNA da vacina é transportado para dentro do organismo dos voluntários por meio de um outro vírus, o “vetor”, que neste caso é um adenovírus inócuo, incapaz de se reproduzir.

O anúncio da aprovação da vacina pelo governo russo sem a conclusão dos testes foi mal recebido pela comunidade científica internacional, gerando uma enxurrada de críticas. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da OMS nas Américas, afirma que todas as vacinas devem respeitar as três fases de testes, mesmo em situações de emergência mundial de saúde pública, como vivemos agora.

Fonte: Extra