SINDIQUÍMICA

Banco Central abre a porta para nova redução da taxa Selic

Após decisão emergencial do banco central dos EUA de reduzir taxas, autoridade monetária brasileira sinaliza que postura de interromper queda da Selic será reavaliada. Governos de vários países anunciam medidas para evitar recessão

Diante do avanço do coronavírus e dos efeitos da epidemia sobre a economia brasileira, o Banco Central (BC) abriu a porta nesta terça-feira (3/3), para uma nova redução da taxa básica de juros, a Selic. Contrariando a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual havia afirmado que seria recomendável interromper o processo de cortes da taxa, o BC divulgou comunicado nesta terça-feira (3/3) indicando que essa postura está sendo revista. A nota foi divulga em um dia agitado para os mercados de todo o mundo, após o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, anunciar, em caráter extraordinário, uma diminuição de 0,5 ponto percentual nas taxas básicas de juros do país.

O presidente do Fed, Jerome Powell, deixou claro que a decisão foi tomada para incentivar a atividade econômica, diante do temor de que o coronavírus leve a economia global e a dos EUA a uma recessão. “Nas próximas semanas e meses, continuaremos a monitorar de perto os desenvolvimentos (do coronavírus) e suas implicações para as perspectivas econômicas. E usaremos nossas ferramentas e agiremos conforme apropriado para apoiar a economia”, disse Powell, indicando que o Fed ainda pode voltar a rever suas taxas de juros caso seja necessário.

Na nota distribuída no fim da tarde, o BC brasileiro explicou que está de olho no avanço do coronavírus e mostrou que a projeção de manutenção da Selic em 4,25% ao ano pode ser revista diante do novo cenário econômico.

“No último Copom, o 15º parágrafo da Ata da 228ª reunião afirma: ‘O eventual prolongamento ou intensificação do surto implicaria uma desaceleração adicional do crescimento global, com impactos sobre os preços das commodities e de importantes ativos financeiros. O Copom concluiu que a consequência desses efeitos para a condução da política monetária dependerá da magnitude relativa da desaceleração da economia global versus a reação dos ativos financeiros’”, frisou o BC no comunicado.

A autoridade monetária ainda disse que “monitora atentamente os impactos do surto de coronavírus nas condições financeiras e na economia brasileira”, e que, “à luz dos eventos recentes, o impacto sobre a economia brasileira proveniente da desaceleração global tende a dominar uma eventual deterioração nos preços de ativos financeiros”.

O BC avisou, porém, que não vai se antecipar ao problema e convocar uma reunião extraordinária do Copom para deliberar sobre o assunto, como fez o Fed nesta terça-feira (3/3). A discussão sobre como enfrentar o coronavírus, portanto, vai se dar na próxima reunião do colegiado, marcada para 17 e 18 de março. “O Banco Central enfatiza que as próximas duas semanas permitirão uma avaliação mais precisa dos efeitos do surto de coronavírus na trajetória prospectiva de inflação no horizonte relevante de política monetária”, explica a nota.

“O Banco Central avisou que não vai atuar antes do Copom como o banco central americano, mas sinalizou que o que disse sobre não reduzir mais a taxa de juros está sendo reavaliado. Sinaliza, portanto, que vai reduzir as taxas de juros agora em março”, avaliou o economista-chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo Silveira, acrescentando que, com esse comunicado, o BC “preocupou-se em colocar em perspectiva o novo cenário econômico, desconsiderando aquilo que foi dito na última reunião”.

“Como um bom banqueiro, o Banco Central deixou em aberto que pode rever aquela projeção caso o cenário mude e, sem dúvida alguma, mudou, seja porque temos um viés de baixa no crescimento mundial, seja porque temos uma rodada de redução de juros no mundo”, acrescentou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.

“O corte está meio que dado”, acrescentou o economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont. Ele ainda afirmou que reduzir os juros parece ser de fato recomendado nesse momento, para garantir que o consumo e, consequentemente, a produção brasileira continuem sob estímulo mesmo diante da desaceleração da China. “Tem que cortar uma vez que está acontecendo um movimento diferente lá fora. A redução da atividade global afeta nosso crescimento. E o fato de os bancos centrais do mundo estarem agindo facilita o trabalho do BC de cortar um pouco mais”, disse.

A dúvida do mercado agora é sobre a magnitude desse corte: será de 0,25% ou haverá uma redução maior, de 0,5%? “Vai depender da gravidade da situação”, avaliou Silveira.

Mundo

Além dos Estados Unidos, que levaram a taxa de juros para o intervalo entre 1% e 1,25% ao ano, Austrália e Malásia também já reduziram os juros. E o mercado espera que outros bancos centrais também revisem suas taxas nos próximos dias, em um movimento similar ao que aconteceu na crise financeira de 2008.

O G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo, avisou nesta terça-feira (3/3), antes mesmo do anúncio do Fed, que está disposto a “usar todas as ferramentas políticas apropriadas” para se proteger dos impactos econômicos da epidemia de coronavírus e, assim, “alcançar um crescimento forte e sustentável” neste ano. O grupo ainda disse que está disposto a cooperar em medidas econômicas “oportunas e eficazes” e que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial estão prontos para ajudar o mundo a “enfrentar a tragédia humana e o desafio econômico colocado pela Covid-19 por meio do uso de seus instrumentos disponíveis ao máximo possível”.

Fonte: Correio Braziliense