SINDIQUÍMICA

Economia aquecida aumentou a renda das famílias acima da inflação em 2024

Renda domiciliar per capita no Brasil aumenta e atinge R$ 2.069 em 2024, revela IBGE

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Um levantamento, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o rendimento domiciliar per capita em 2024, atingiu R$ 2.069, um avanço de mais de 9% em relação ao ano de 2023 (R$ 1.893). Já a inflação oficial ficou em 4,83%, o que representa quase metade abaixo dos ganhos reais.

Esse aumento na renda familiar tem diversos motivos, mas o principal, segundo a professora de economia e pesquisadora do mundo do Trabalho da Unicamp, Marilane Teixeira, foi o aquecimento da economia em 2024 que melhorou as condições de barganha dos trabalhadores e das trabalhadoras.

“Isso tem muito a ver com as negociações coletivas, com os reajustes salariais acima da inflação”, afirma. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 2024 foi um ano com os melhores resultados das negociações salariais desde 2018, quando o órgão passou a analisar todos os instrumentos coletivos registrados no Mediador, do Ministério do Trabalho e Emprego. Em boa parte do ano, reajustes acima da variação do índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foram garantidos em mais de 80% dos instrumentos coletivos nas datas-bases.

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Esse poder de barganha do trabalhador, segundo a economista, se refletiu no número de pessoas que pediram demissão por terem, provavelmente, recebido propostas salariais melhores, contribuindo para o aumento de renda familiar.

“Do total de pessoas desligadas no ano passado, 8,5 milhões pediram demissão, o que significa que uma boa parte desses pedidos foi porque tinham opções melhores de trabalho, o que obviamente representa melhores salários. Isso é uma característica de setores mais aquecidos. Além dos tradicionais que a gente sabe como serviços, mas a indústria também foi um dos seguimentos que teve um bom desempenho em 2024. E a gente sabe que o emprego na indústria tem melhores salários”, analisa.

O aumento da renda familiar pode também ser creditado em parte, à Política de Valorização do Salário Mínimo, que após uma luta da CUT, voltou a ser aplicada em 2023 com Lula na presidência da República, após ela ter sido cancelada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. De 2019 a 2022 os trabalhadores e as trabalhadoras não tiveram reajustes acima da inflação, como prevê a atual lei.

“O ganho real do salário mínimo em 2024 foi menor do que o ganho real na renda. Então, não dá para atribuir só à valorização do salário mínimo. Tem outros componentes, mas é claro que a questão da política de valorização, sem dúvida, tem um efeito importante porque boa parte da renda do trabalho é composta por faixas que vão de um a um e meio salário mínimo. Mas podemos assegurar que boa parte disso [aumento da renda] se deve a esses reajustes até porque no ano de 2024 o país gerou bastante trabalho”, diz Marilane. A taxa de desemprego fechou 2024 em 6,6%, o menor índice desde 2012.

Composição da renda familiar

A renda familiar é composta pelos salários como também outras fontes como aposentadorias, recebimento de aluguéis, programas de benefícios sociais (Bolsa Família, BPC, entre outros), saques do FGTS, restituição do imposto de renda, herança, indenização de seguro, etc.

Metodologia da pesquisa IBGE

O rendimento domiciliar per capita é calculado pela divisão do total de rendimentos dos domicílios pelo número de moradores, incluindo os rendimentos de trabalho e de outras fontes. Além disso, todos os moradores são considerados no cálculo, inclusive os moradores classificados como pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos. A PNAD Contínua, pesquisa que embasa esses dados, é realizada desde 2012 e acompanha a evolução socioeconômica do país.

Os valores foram obtidos a partir dos rendimentos brutos de trabalho e de outras fontes, efetivamente recebidos no mês de referência da pesquisa, acumulando as informações das primeiras visitas da PNAD Contínua feitas no 1º, 2º, 3º, e 4º trimestres de 2024.

É importante ressaltar que, devido à pandemia de COVID-19, houve alterações na metodologia da pesquisa nos anos de 2020, 2021 e 2022. No entanto, a partir de 2023, a pesquisa retomou a metodologia padrão, garantindo a comparabilidade dos dados.

A divulgação do rendimento per capita atende à Lei Complementar 143/2013, que estabelece os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE). Os valores também são utilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para o cálculo de indicadores socioeconômicos.

Fonte: Cut