SINDIQUÍMICA

Cerimônia de cremação de Marisa Letícia ainda não tem data marcada

Médicos detectam a falta de atividade cerebral em dona Marisa Letícia. Lula e os filhos autorizam, então, transplantes

Casada com o ex-presidente Lula desde 1974, Marisa teve quatro filhos: falta de atividade cerebral confirmada em exame na manhã de ontem

A família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou o início dos procedimentos para a doação de órgãos da ex-primeira-dama Maria Letícia Lula da Silva, 66 anos. Após a realização de um exame doppler transcraniano na manhã de ontem, a equipe médica do Hospital Sírio-Libanês identificou a ausência de fluxo cerebral. Ela está sem aparelhos e sem sedativos desde que os médicos detectaram a falta de atividade no cérebro.
Apesar de os exames revelarem que a ex-primeira-dama não tem mais atividade cerebral, o protocolo oficial de constatação de morte cerebral só pode ser iniciado 18 horas depois da interrupção da sedação. Ou seja, no caso de dona Marisa, isso só poderá ser feito depois das 6h de hoje. A ex-primeira-dama sofreu um acidente vascular cerebral na tarde de 24 de janeiro e permanece internada desde então. O AVC foi causado pelo rompimento de um aneurisma diagnosticado há 10 anos.
A provável causa para o problema cerebral de Marisa, no entanto, pode ter sido causado por uma trombose venosa, avalia o angiologista Alcides José Araújo Ribeiro, especialista em cirurgia vascular do Hospital de Base do Distrito Federal. A condição foi constatada na segunda-feira e ocorre pela formação de coágulos no interior das veias profundas, provocando obstrução do fluxo de sangue que volta para o coração.
“Ela ficou acamada e houve lentidão do fluxo venoso. O tratamento é feito com anticoagulante, mas, no caso dela, não podia usar por causa do sangramento. Foi colocado um filtro na veia feito com um tipo de metal especial, para evitar embolia pulmonar porque, se entope o pulmão, a pessoa deixa de respirar. Essa é, inclusive, causa frequente de morte de pacientes internados”, analisou Alcides.

Solidariedade

A situação de dona Marisa provocou uma comoção nacional. Amigos, familiares e políticos prestaram condolências. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso visitou Lula no Sírio-Libanês na tarde de ontem. Deputados e senadores federais petistas também compareceram ao hospital.
Nas redes sociais, Lula agradeceu o apoio. “A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da primeira-dama dona Marisa Letícia Lula da Silva”, disse. Em outro momento, Marisa havia declarado a intenção de ser cremada. A cerimônia de cremação será em São Bernardo do Campo (SP).
Antes disso, entretanto, será necessária a avaliação de quais órgãos serão transplantados. Já está definido que as córneas serão doadas. Após o processo, será necessário verificar na lista única da Central de Transplantes quais os possíveis pacientes estão aptos a receber os órgãos de Marisa.

Primeira bandeira do PT

Mais do que a mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim, Marisa Letícia Rocco Casa é lembrada por amigos. “Era uma mulher forte. Uma fortaleza que não se traduzia por palavras ou gestos. Aguentou as pontas quando Lula passou as maiores dificuldades, como quando foi preso. Ou econômicas, quando foi demitido”, disse o deputado federal Vicentinho (PT-SP), um dos fundadores do PT.
Casada desde 1974 com Lula, de quem adotou o sobrenome, foi primeira-dama do Brasil entre 1º de janeiro de 2003 e 31 de dezembro de 2010. Marisa nasceu em São Bernardo do Campo, em 7 de abril de 1950. Foi a décima filha de Regina Rocco Casa e de Antonio João Casa, casal de ascendência italiana, com origem na Lombardia. Marisa começou a trabalhar cedo. Aos 9 anos, cuidava de crianças. Aos 13, virou operária na fábrica de doces Dulcora. Com o pouco salário que recebia como embaladora de bombons, ajudava nas contas de casa.
Aos 19, parou de trabalhar, após se casar com o caminhoneiro Marcos Cláudio da Silva. Tornou-se viúva anos depois, quando estava grávida do primeiro filho, Marcos. O então marido dirigia o táxi do pai para tirar uma renda extra e acabou assassinado em uma tentativa de assalto. Após o incidente, voltou a trabalhar e se tornou inspetora de escola. Em abril de 1973, conheceu o também viúvo Lula, com quem se casou seis meses depois. O novo marido adotou oficialmente o primeiro filho e, junto, o casal teve outros três: Fábio Luiz, Sandro Luiz e Luiz Cláudio.
Marisa Letícia colaborou ativamente com a carreira política de Lula. Na criação do PT, foi ela a responsável por cadastrar os interessados em se filiar à sigla e por costurar a primeira bandeira do partido. Em 1980, quando Lula e outros sindicalistas foram presos, Marisa liderou uma marcha de mulheres para pedir a liberação do grupo.