SINDIQUÍMICA

Guedes deixa de ser unanimidade entre analistas do mercado financeiro

Cresce entre analistas a percepção de que o responsável pela condução da política econômica perdeu a força diante das dificuldades em aprovar os projetos. Ministro Paulo Guedes admite estar frustrado

(crédito: Isac Nobrega/PR)

Com a credibilidade em baixa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem a mesma força do início do governo. Isso é cada vez mais consensual entre economistas ouvidos pelo Correio. Entre operadores do mercado financeiro, o ministro deixou de ser unanimidade. O rol de promessas não cumpridas é tão grande que Guedes já virou motivo de piadas e memes nas redes sociais, apesar de ainda ter um séquito de adoradores, como o presidente Jair Bolsonaro.

O chefe da equipe econômica não conseguiu arrecadar R$ 1 trilhão com privatizações, fazer reformas estruturantes, como a administrativa e a tributária, e um novo pacto federativo, até hoje não detalhado. Tudo isso era para ser entregue no primeiro ano de governo, com a reforma da Previdência. Nesta semana, até Guedes admitiu estar frustrado com a falta de resultado nas privatizações.

Na avaliação de analistas, sem ter o que mostrar, ele partiu para ameaças, como a desastrosa frase de que o país voltaria para hiperinflação, que provocou uma onda de críticas. Há um problema concreto com a dívida pública bruta do país, que pode chegar, neste ano, a 100% do Produto Interno Bruto (PIB), patamar insustentável para um país emergente — e para o qual Guedes ainda não apresentou solução.

Um economista próximo ao governo disse que está muito preocupado, e que não acredita nas promessas de cumprimento do teto de gastos — dispositivo constitucional que limita o aumento de despesas públicas à inflação do ano anterior —, última âncora da confiança do mercado no atual governo.

“Guedes está virando piada, porque não fala nada de concreto sobre que rumo que o país vai seguir. Depois de negar a ditadura, ele veio com a ameaça de hiperinflação e a promessa de privatizar quatro empresas no ano que vem, mas ainda não tem modelo”, destacou Elena Landau, responsável pelo programa de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso. “O que foi apresentado é o que tinha sido elaborado no governo Michel Temer”, disse. “O ministro virou o menino que grita: é o lobo”, comparou ela, citando a fábula do garoto desacreditado, por ser um mentiroso, na hora em que o lobo vem de verdade.

A consultora Zeina Latif, que criticou o discurso cheio de promessas de Guedes na posse, agora constata que estava certa. “Um ministro da Economia não pode ficar manipulando expectativas. Ele tem que ser uma referência de credibilidade do governo”, destacou.

Para Leonardo Ribeiro, analista do Senado, uma das razões da perda de credibilidade é que o ministro costuma mandar para o Legislativo propostas com muitos problemas redacionais. Ribeiro cita como exemplo a PEC 186, que trata da emergência fiscal. “A proposta proíbe o Legislativo de criar despesa obrigatória. Mas, só existem dois tipos de despesas: obrigatória e discricionária.”

Na contramão, está o economista Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae Asset. “Guedes tem credibilidade alta junto ao mercado. Ele é um dos melhores economistas do país”, defendeu.

Fonte: Correio Braziliense